Hoje, 25º dia (dia da Dakini) do 11º mês do ano do galo de fogo, do calendário lunar tibetano, bem cedo pela manhã, partiu um dos membros de nossa família: o cão do Lama Chimed, chamado Norbu, a quem toda a Sangha amava muito, pois era um cão muito dócil e amável.
Da forma tradicional no Budismo Tibetano quando da prática de Phowa para um falecido, como um teste para a efetividade da prática, coloca-se manteiga na coroa da cabeça do falecido. Lama Chimed e Rogério colocaram, assim, um pedaço de manteiga na coroa da cabeça do Norbu.
Lama e Rogério foram, então, para o Templo. Rogerio acendeu 50 lamparinas e Lama Chimed fez a prática de Phowa. Depois disso, Lama fez também a prática de Akshobhya. Nessa hora, Rogerio trouxe o bumpa até onde estava o corpo do Norbu, na varanda da casa do Lama, para purificar seu corpo com a água do bumpa. Ele então viu que toda a manteiga que tinha colocado na coroa da cabeça do Norbu havia desaparecido, e o pêlo dele nem mesmo oleoso estava. Quando Rogerio contou isso ao Lama Chimed, Lama ficou muito feliz, pois é um excelente sinal de Phowa bem sucedido.
Depois de finalizados os pujas, saíram do templo e o céu estava ornamentado com arco-iris e tigles, bem como com nuvens em um arranjo muito auspicioso chamado “tren dja”, que se trata de nuvens entremeadas por arco-íris, que preencheram o céu.
Também foram oferecidas em benefício do Norbu lamparinas em Lhasa Jokang e uma demão de tinta dourada no rosto do Jowong, Buddha Shakyamuni.
Nosso agradecimento ao Rogerio, que, ano passado, nesta mesma época, estava atuando como “babá” do Norbu, e agora estava por perto para dar suporte e partilhar com Lama Chimed as atividades deste momento da partida do Norbu.
No Budismo, acreditamos em conexão cármica. Tudo o que aconteceu demonstra que Rogerio tem amor verdadeiro pelo Norbu.
Possa o mérito desta prática liberar ao Norbu e a todos os animais ao estado búdico.
No dia 14 de julho de 2017, Khenchen Sodnam Tenpa passou ao Parinirvana. Ele era o principal tutor na universidade de Kathog, e tio mais novo do Lama Chimed. Nos dias que antecederam ao parinirvana, ele deixou orientações em Kathog aos seus discípulos khenpos e tulkus, e deixou avisado que entraria em retiro. Voltou então à sua casa de retiros no vale de Nyag Rong, na região natal do Lama Chimed.
Estando na sua casa, no topo da montanha, ele pediu à sua atendente, filha de Tsopu Dorlo Rinpoche, que entrasse em contato com Khenpo Tsering Gyatso, primo em primeiro grau do Lama Chimed, e três outros Khenpos e Lamas, para que viessem consertar o seu tanque de água. Enquanto eles não chegavam, ele, em conversas informais com ela, deixou diversos sinais que depois seriam importantes.
Quando chegaram as quatro pessoas cuja presença ele havia solicitado, instalaram-se em uma tenda perto da casa de retiro dele. No dia seguinte, foi o seu parinirvana. Ao perceberem, nenhum deles sabia o que fazer e perguntaram-se uns aos outros se algum deles teria recebido as instruções. Conversaram com sua atendente, que tampouco teria recebido instruções para o momento. Sendo assim, decidiram inicialmente cobri-lo com seu zen amarelo, pois é a tradição vestir o Lama com o seu zen de uso. Ao abrirem o zen amarelo para cobri-lo, encontraram ali textos manuscritos por ele com as instruções que ele deixou sobre como conduzir em relação ao seu parinirvana, bem como seus últimos conselhos aos seus discípulos.
Instruções e conselhos
Uma das instruções foi tornar públicos aqueles conselhos, pois seriam de grande benefício a todos. Tais conselhos já estão disponíveis no alfabeto Sambhota e também em chinês, ambos disponíveis aqui no site. Quando possível, disponibilizaremos também a tradução ao inglês, espanhol e português.
Sobre seu parinirvana, ele deixou escrito que não retornaria como tulku, instruiu a não fazer qualquer cerimônia específica ao seu parinirvana, não fazer qualquer oferenda para esse propósito, nem mesmo de uma lamparina. Que deveria haver uma cremação simples, como a de uma pessoa comum, no meio da noite, depois de quatro dias, e que ninguém fosse avisado de seu parinirvana até que os 49 dias tivessem passado. Todos os seus pertences, incluindo as suas sadhanas, deveriam ser cremados juntamente com seu kundun. Todo e qualquer que transgredisse as orientações quebraria o samaya com ele.
Sinais muito especiais
Durante a cremação, houve a aparição no céu de arco-íris na forma dos implementos dos Buddhas das cinco famílias, um de cada vez, um transformando-se no outro. Os que estavam presentes disseram ter sido inédito. Depois da cremação, muitas relíquias de seus ossos foram encontradas na forma de muitos itens do Dharma. Tal fenômeno é comum quando da cremação de mestres do budismo tibetano. Ele deixou também a instrução que nenhuma dessas relíquias fosse preservada ou usada para qualquer propósito, mas que todos os restos da cremação, até as cinzas, fosse colocado no rio MeiChe. Isso significa que nenhum pertence nem nenhuma relíquia de Khenchen Sodnam Tenpa foi deixado para trás na ocasião do parinirvana. Todo aquele que alegar ter um desses, estaria mentindo – essas foram as instruções deixadas.
Lama Chimed Rigdzin tem alguns presentes dados por Khenchen nas suas visitas ao Tibet em 2004 e 2007, e se alegra com isso. Pois nem mesmo ele, seu sobrinho mais velho, foi avisado do parinirvana antes do fim do prazo. Khenpo Tsering Gyatso entrou em contato no fim, avisando do ocorrido e se desculpando por não ter avisado antes, pois não podia faze-lo devido às instruções deixadas por Khenchen. Ele precisava manter o samaya com seu Guru. Khenpo Ngawang tamém não foi avisado, e depois, quando soube, agradeceu muito a todos por terem mantido a Guru Yoga; que todos deveriam continuar agindo daquela forma.
Um pouco sobre a vida de Khenchen
Khenchen Sodnam Tenpa tinha votos, desde a idade de 20 anos aproximadamente, de abrir mão da vida familiar. Milarepa, Djalu Dorje, entre outros, tinham esta mesma conduta.
Nesta pequena cabana, ele viveu durante os sete primeiros anos. Alguns familiares, preocupados com a sua condição de saúde, solicitaram que ele se mudasse dali
Esses familiares então ofereceram uma nova casa, com cozinha além do quarto para meditação. Nesta nova casa, ele viveu até ir para Kathog.
Alguns anos após o parinirvana de Khenchen Tsultrim Tarchin, irmão de Khenchen Sodnam Tenpa e tio mais velho e Guru do Lama Chimed, que tinha a função de principal tutor em Kathog, Khenchen Sodnam Tenpa recebeu o convite de Kathog para assumir essa função. E esse convite foi feito de maneira bastante inusitada: sabendo que Khenchen Sodnam Tenpa era muito arisco e não afeito à vida em comunidade, mestres de Kathog foram até a casa dele no meio da noite e montaram acampamento ali para que pudessem fazer a ele o convite pela manhã, sem que ele pudesse se esquivar! Assim, na manhã seguinte, fizeram oferendas de katags e colocaram que, se ele não aceitasse o convite, a universidade de Kathog seria fechada. Assim, nessa casa que vemos ao lado, ele viveu por aproximadamente 30 anos.
Quando ele decidiu finalizar suas atividades nesta vida, deixou instruções pessoais para as centenas de khenpos na Universidade de Kathog acerca da manutenção da linhagem.
Tendo deixado essas instruções, retornou para a sua velha casa no vale de Nyag Rong. Alguns meses após esse retorno, passou ao parinirvana
Conselhos para um praticante do Dharma último
Nas imagens abaixo, os conselhos manuscritos deixados por Khen Rinpoche e já disponibilizados no alfabeto Sambhota.
E aqui estão as imagens dos textos dos conselhos manuscritos originais de Khen Rinpoche encontrados no seu zen amarelo:
Algumas Imagens do Naljorpa Kathog Khenchen Sodnam Tenpa